FAMÍLIA DANTAS
A presença dos Dantas na Serra do Teixeira, segundo a tradição oral, remonta ao século XVIII, quando chegaram à região quatro portugueses que logo se dispersaram: Inácio, o mais jovem regressou a Portugal, dois foram para Currais Novos, RN e Antônio que, casando-se com a bela Josefa, permaneceu no local, tornando-se dono de terras e de escravos. Em homenagem ao jovem que regressou a Portugal, o nome “Inácio” iria se repetir em algumas gerações dos descendentes de Antônio.
Segundo José Adelino Dantas (1977), dados comprovados mostram que o português José Dantas Correia (I) e sua esposa, a paraibana Isabel da Rocha Meireles, constituem as raízes dos Dantas da Serra do Teixeira. Eram eles senhores do Engenho Fragoso, localizado nas proximidades do Recife, conforme documentação disponível. Sua descendência ajudou a povoar os sertões da Paraíba e do Rio Grande do Norte, a partir de 1710. Um de seus filhos, Caetano Dantas Correia (1710-1797), constituiu a origem da família Dantas na região do Seridó. Outro filho, também de nome José, aqui referido como José Dantas Correia (II), vai constituir o tronco da família Dantas, na Paraíba.
O Alferes Antônio Dantas Correia de Góis foi casado com Josefa Francisco de Araújo e Almeida, filha de Mariana Francisca Benedita e do português João de Araújo e Almeida, Cavaleiro da Ordem de Cristo, natural do Arcebispado de Braga. Mariana Francisca era filha de Ana Coelho Barreto, da família Gomes Coutinho. O Alferes tornou-se próspero senhor de terras e escravos. Uma de suas fazendas, no município vizinho de São José do Egito, era povoada exclusivamente por escravos e tinha o paradoxal nome de “Piedade”. Em 1795, faz com sua mulher a doação de 24.000 braças quadradas de terras ao Patrimônio da Capela de Santa Maria Madalena, da freguesia do Teixeira. Essas terras serão permutadas, oitenta e seis anos depois, em 1881, por outras melhor localizadas, por seu bisneto, Delmiro Dantas Correia de Góis, filho do Coronel da Guarda Nacional, Dr. Manoel Dantas Correia de Góis. Delmiro era então administrador do Patrimônio de Santa Maria Madalena.
Os quatro filhos do Alferes – Antônio, Lourenço, José e Inácio – tiveram, como o pai, o sobrenome “Góis” acrescido ao “Dantas Correia”. Era também um tributo à avó, Tereza de Góis e Vasconcelos. Antônio Dantas Correia de Góis (Júnior) ordenou-se padre, foi vigário em Teixeira e depois em Patos, nos anos de 1828 a 1852. São suas as primeiras assinaturas do Livro número 1 de batizados da freguesia do Teixeira, de 1843. Era considerado “homem de idéias, um pouco caprichoso, mas pacífico”. Padre Antônio prestou bons serviços à paz e ao progresso da Vila. Faleceu em Patos, em 1852, mas seu corpo foi sepultado na Capela de Teixeira.
O segundo filho do Alferes Antônio Dantas Correia de Góis, Inácio Dantas Correia de Góis, não constituiu família. Morreu no ano de 1860. Lourenço Dantas Correia de Góis e José Dantas Correia de Góis casaram-se com as filhas do Capitão Manoel Pereira Monteiro, de Serra Negra do Norte e de Dona Tereza Maria da Conceição. Lourenço e Senhorinha Francisca dos Passos tiveram catorze filhos; José e Maria Isabel dos Passos, Bilinha, geraram quatro filhos. Os filhos dos dois casais manterão o sobrenome “Dantas Correia de Góis”, sem nenhuma referência a “Pereira Monteiro”, mas o segundo filho de José adota “Monteiro” na composição de seu nome: Antônio Dantas de Góis Monteiro.
Austero e religioso, José vivia da agricultura e da pecuária. “Jamais aceitou cargo público, era alheio completamente ao movimento social”.De seu casamento com Bilinha, houve quatro filhos:
1. Manoel, Coronel Dr. Manoel Dantas Correia de Góis (1827-1910), casado com Jacinta Augusta Duarte Dantas, filha de Bernardo Duarte, fazendeiro na Paraíba e no Ceará. Jacinta faleceu prematuramente, em 1878. O casal teve catorze filhos. Manoel tendo enviuvado, dedicou-se inteiramente à política, sendo eleito várias vezes deputado e torna-se, pela sua popularidade e grande prestígio, a personalidade mais proeminente da linhagem dos Dantas do Teixeira. Em 1880, foi eleito deputado provincial e presidente da Assembléia. Tal como seu tio Lourenço, Manoel pertenceu ao Partido Liberal. Em 1885 foi eleito deputado geral; em 1888, voltou à Assembléia provincial e em junho de 1889, assume, interinamente, a presidência da Província da Paraíba. Fez parte da Constituinte estadual de 1892, sendo reeleito deputado estadual em 1896, 1900 e 1904. Em agosto de 1889 é a vez de seu oitavo filho, Dr. Franklin Dantas Correia de Góis, ser eleito deputado geral, também pelo Partido Liberal. No Rio de Janeiro, Franklin presenciará, em novembro, o golpe militar no Campo de Santana, a queda do Império e a fundação da Primeira República.
2. Capitão Antônio Dantas de Góis Monteiro, casado em primeiras núpcias com Rita de Cássia Pessoa de Mello e em segundas com Idalina Dantas da Fonseca Neves, teve oito filhos dos dois matrimônios.
3. Benigna Dantas da Silveira, casada com o primo, filho de Lourenço, Ilídio Dantas Correia de Góis (1834- ?). Ilídio casou-se a segunda vez com Justina Eugênia Ferreira Dantas. Do primeiro casamento houve onze filhos e do segundo, sete.
4. Casusa, o Alferes José Dantas Correia de Góis Júnior ( ? – 1876), casado com Maria Senhorinha dos Passos Dantas, Maroca (1844-1926), filha de Lourenço. O casal teve oito filhos. Uma tragédia aconteceu na família: ocupando a função de delegado, em 1876, Casusa foi incumbido de prender, no município de Santa Luzia do Sabugi, o ex-chefe do Partido Conservador e ex-Delegado de Teixeira, Liberato de Carvalho Nóbrega, que devia contas à justiça e estava homiziado na própria fazenda. Ao chegar aí, o caçula de José foi mortalmente atingido pela pontaria do bacamarte de Liberato.
José Dantas Correia de Góis, acabrunhado e entristecido com o assassinato do filho, falece meses depois, em 1877, nove anos depois de seu irmão Lourenço Dantas Correia de Góis, Casusa deixou viúva, sua prima Maroca, de apenas trinta e dois anos de idade e oito filhos menores:
a) Belisário Dantas Correia de Góis, o mais velho, com catorze anos;
b) Josefina Maria dos Passos Dantas, com treze;
c) Epaminondas Dantas Correia de Góis, com onze;
d) Liberalina dos Passos Dantas, com sete;
e) Orlando Dantas Correia de Góis, com cinco;
f) Maria dos Anjos dos Passos Dantas, com quatro;
g) Lourenço Dantas de Góis Monteiro, com três e
h) Josefa dos Passos Dantas (Tia Sinhá), com um aninho de idade.
O sétimo filho de Casusa, Lourenço Dantas de Góis Monteiro (1873-1927) será o pai, dentre outros, do poeta João Dantas Monteiro (1910-1964) e do empresário Arlindo Dantas Monteiro (1918-1980). Este último, a razão de ser do Museu Arlindo Dantas Monteiro.
As terras do Amparo e o Casarão do Jabre
Ao patriarca Lourenço Dantas Correia de Góis pertenceram as terras do Deserto e do Amparo, e outras propriedades adquiridas por compra e por herança de seus pais, o Alferes Antônio Dantas Correia de Góis e Josefa Francisco de Araújo e Almeida.
Lourenço residiu em Teixeira, na Capital Paraíba e em Patos, onde era advogado e também suplente de juiz municipal. Em 1840, foi eleito deputado provincial pelo Partido Liberal. Como outros de sua época, era admirador da Guarda Nacional, onde ocupou o posto de Tenente-Coronel (a Guarda Nacional foi criada em 1831, substituindo as antigas Milícias e Ordenanças e tinha como missão defender a Constituição, a Independência do Brasil e a integridade do Império). Nos vários papéis que desempenhou, era sempre tido como “inteligente e ilustrado; pacífico e ordeiro”. Faleceu no ano de 1868.
Atribui-se a Lourenço a construção, com mão-de-obra escrava, do Açude do Amparo, do engenho e da casa residencial, de frente para o Açude. Essa casa – edificada em data ainda incerta, possivelmente entre os anos de 1820 e 1835 – possui hoje um nome oficial, que é “Casarão do Jabre”. Está situada a pouco mais de 2 km a oeste de Maturéia e a 1,5 km do sopé do Pico do Jabre, ponto culminante da Serra da Borborema. A imponência do Casarão, as enormes dimensões dos tijolos, das telhas, do madeirame e dos espaços, a qualidade superior do material empregado, tudo leva a crer que seu construtor foi um homem bem posicionado economicamente, a exemplo do Dr. Lourenço Dantas Correia de Góis.
Dos filhos de Lourenço e Senhorinha Francisca, apenas dois deles – Ilídio e Felinto – usufruíram da beleza da ambiência da casa, do engenho e do açude. Depois vieram os sobrinhos, Alfredo Dantas Correia de Góis e sua mulher, Benigna dos Passos Dantas. Os filhos do casal Alfredo e Benigna – José Alfredo Dantas, Esmerina dos Passos Dantas, Severina Benigna Dantas, Francisca de Assis Dantas e Adelina dos Passos Dantas – foram criados nesta casa e, como seus antepassados, puderam desfrutar do clima ameno e das belezas do Amparo, até os anos de 1920. Com o falecimento de Alfredo Dantas Correia de Góis, em 1922, o Amparo sofre o infortúnio do mal uso de seus recursos naturais, sendo até descaracterizado em suas dimensões originais, resultado da inoportuna venda de suas melhores terras. A feição original do Casarão, no entanto, manteve-se íntegra, ao contrário do Casarão do Deserto, construído por ancestral de Lourenço, possivelmente pelo primeiro Dantas que chegou à Serra do Teixeira, José Dantas Correia. É deplorável o fato de que a mais antiga moradia dos Dantas do Teixeira tenha sido demolida iconoclasticamente no final do século XX.
O Casarão do Jabre foi habitado, até início dos anos setenta, por José Dantas Correia de Góis, neto de Casusa, e sua mulher, a legendária Biliu, Severina Dantas de Araújo, bisneta de Lourenço. Nesta paisagem magnífica, tendo o Pico do Jabre como fundo, o açude à frente, o Casarão era sempre bem conservado. Ali valorizavam as palmeiras, as belíssimas árvores e os jardins floridos que cultivam com esmero. Ali, reverenciaram a memória de Joel, o filho de sete anos de idade falecido em 1943.
O Casarão do Jabre sedia o recém-criado (1998) Museu Arlindo Dantas Monteiro. A iniciativa de sua fundação e a escolha do nome deu-se, em boa hora, por inspiração da esposa e do filho de Arlindo, Josefa Rodrigues Monteiro, Zelice e Heráclio Dantas Rodrigues.
Prosseguirá o Museu Arlindo Dantas Monteiro na sua missão de resgatar a história dessa pequena parte do Brasil. Muito há para revelar sobre a presença dos Dantas na Serra do Teixeira Muito mais, entretanto, resta estudar sobre os indígenas, seus primeiros habitantes e sobre os afro-descendentes que ajudaram a construir o passado e o presente de Teixeira, Maturéia, Imaculada, Mãe D’água e adjacências.
O Museu Arlindo Dantas Monteiro, hoje, revela o passado, com vistas ao futuro!
(Recife, 2002)
FONTE: ‘Crônicas das 12’. João Pessoa: s/e, 1998, pág. 19-23.